quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Eis A Banda de Rock do Brasil

Legião Urbana (1984) - Legião Urbana

Gostar de Legião Urbana é uma coisa bem fácil. Qualquer adolescente que ouvir Será ou Faroeste Caboclo achará as músicas legais. São boas sim, mas a questão é: essas músicas executadas milhões de vezes não são nem o topo do iceberg qué a Legião Urbana. Quem conhece bem a banda, sabe disso. E sem falsa modéstia, de Legião Urbana eu entendo. (E custei a decidir se escreveria ou não sobre a banda.)

Voltando ao ano de 1984, Dado Villa-Lobos, Renato Russo, Renato Rocha e Marcelo Bonfá eram apenas uns garotos de Brasília tentando gravar um LP. Depois de dificulades: alguns surtos de Renato Russo durante a gravação e algumas trocas de produtores, eles conseguiram com sucesso. Pela primeira vez, chega a mídia rock brasileiro com qualidade, atitude e sentimento.
Influenciados claramente pelo punk e pós-punk ingleses da época, o disco Legião Urbana traz, não apenas o hino de uma geração. E sim, faixa após faixa de letras sinceras, batidas eficientes e músicas boas de se ouvir.

Para provar parte do que falo, segue abaixo alguns trechos fodas.
A Dança – faixa 2:

“Não sei o que é direito / Só vejo preconceito / E a sua roupa nova / É só uma roupa nova / Você não tem idéias / Pra acompanhar a moda / Tratando as meninas / Como se fossem lixo / Ou então espécie rara / Só a você pertence / Ou então espécie rara / Que você não respeita / Ou então espécie rara / Que é só um objeto / Pra usar e jogar fora / Depois de ter prazer.”

Essa música faz uma alusão perfeita à geração jovem da época, que encaixa perfeitamente ao período atual. Às vezes tenho a impressão que o personagem da letra é um playboy qualquer, outras vezes parece ser o próprio Renato Russo. Ou talvez, seja os dois.

“Nós somos tão modernos / Só não somos sinceros / Nos escondemos mais e mais / É só questão de idade / Passando dessa fase / Tanto fez e tanto faz...”

Perdidos no Espaço – faixa 5:

"Escrevi pra você e você não respondeu / Também não respondi quando você me escreveu / Anotei seu telefone num pedaço de papel / E calculei seu ascendente no recibo do aluguel."
Rimas pobres, mas legais. O som de Perdidos no Espaço é o resultado do pós-punk que os rapazes da Legião ouviam na época. É incrível o que se pode fazer com palavras simples e situações do dia-a-dia. Ainda sim, eles conseguiram imprimir doses de poesia (na letra e na música).


“Ficamos suspensos / Perdidos no Espaço”

O Reggae – faixa 7:

Essa faixa é um ska. A guitarrinha clássica do ritmo reggae está presente, ao lado da ótima linha de baixo do Negrete (Renato Rocha) que dá a cadência da música. A bateria de Bonfá é firme, clássica. E o vocal de Renato: in-dig-na-do!

"Ainda me lembro aos três anos de idade / O meu primeiro contato com as grades / O meu primeiro dia na escola / Como eu senti vontade de ir embora..."

Quem nunca passou por isso, que atire a primeira pedra! O interessante da música é a universalidade do tema. Pra mim, se trata basicamente de como é difícil crescer. Mas ao mesmo tempo, Renato declara guerra à geração anterior, além de ter um "que" da velha revolta contra a polícia que perseguia os punks de Brasília (incluindo o jovem Renato Russo).
Pra você ver como conflitos de gerações podem render bons frutos:

"Beberam meu sangue e não me deixam viver / Vem falar de liberdade pra depois me prender / Tem o meu destino pronto e não me deixam escolher / Pedem identidade pra depois me bater..."

Baader-Meinhof Blues – faixa 8:

Essa daqui não é tão desconhecida por causa da regravação no Acústico MTV. Dado, Renato e Bonfá escolheram bem a representante do disco Legião Urbana para a ocasião.
ps.: até hoje, meu sonho é fazer o solinho da guitarra no início da música (antes de A violência é tão facinante)

“Tudo parece ser tão real / Mas você viu esse filme também”

É a música mais humana do disco. Renato canta o sentimento que poderia ser meu, seu...de qualquer pessoa. Com um diferencial, o talento!

“Já estou cheio de me sentir vazio / Meu corpo é quente e estou sentindo frio / Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber / Afinal, amar o proximo é tão demodê...”

O nome da música ainda é um mistério pra mim. Já procurei em sites, nunca vi nada explicando em revistas e até tentei procurar tradução. Inglês, pelo menos, eu acho que Baader-Meinhof não é.

“Não estatize meus sentimentos p'rá seu governo / O meu estado é independente”

Sacou a jogada aqui? Estatize – Governo – Estado – Independente!Vale a pena conferir, ainda, a versão dessa música no disco Música Para Acampamentos. É diferente, podes crer!

Soldados – faixa 9:

Soldados tem sido bastante tocada ultimamente, pelo menos nas fms locais. E com razão é quase um épico. A canção começa com a bateria de Bonfá martelada como as solas das botas de soldados marchando. Entra o baixo certeiro e a Dado dá alguns acordes na guitarra. O teclado (é o Renato Russo quem toca) dá o tom sublime.

“Nossas meninas estão longe daqui...”

Essa frase é tendenciosa, mas ouvindo a música normalmente eu não percebi (nunca na vida) que se tratava do relacionamento entre dois rapazes. Outra que aborda discretamente o tema é Teorema.

Teorema – faixa 10:

“Não vá embora / Fique um pouco mais / Ninguém sabe fazer / O que você me faz”

Nem precisa falar mais nada!! Renato já declarou em entrevista é sobre sexo oral!
Mas a primeira vez que ouvi essa música foi a regravação do Ira!. Nem preciso falar que a versão original é 100000x melhor. Pura energia e distorção!

Por Enquanto – faixa 11:

Sim, essa é famosa. Mas nos vocais de Cássia Eller. Com a Legião Urbana, nada de violão, nem guitarra. A base é feita pelo baixo e pela bateria eletrônica (tun tis tun tun tun tis tum a música toda). A letra, como muita gente, sabe é linda. Ahh...o nananana que Cássia Eller entoa na sua versão, é uma imitação do teclado de Renato Russo.
Por enquanto foi eleita pelo crítico musical Arthur Dapieve (autor da biografia Renato Russo – O Srovador Solitário e atualmente trabalha no jornal O Globo) como uma das melhores faixas de encerramento de discos.

“Estamos indo de volta pra casa...”

Para finalmente terminar, o trabalho gráfico do disco é simples e bonito. Capa branca, foto em preto e branco, letras vermelhas, desenhos de Marcelo Bonfá. No final de 1985 (ano seguinte após o lançamento de Legião Urbana), a banda foi eleita como revelação por veículos como a Revista Bizz. Na edição de outubro de 2007 da Revista Rolling Stone, esse álbum foi eleito o 40º entre os melhores discos da música brasileira.
Mas depois dele, muito ainda estava por vir para a Legião.