terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Talento sempre vivo


Morrissey promete disco de inéditas e coletânea para 2008

The Police e Mutantes cabeceiam a onda de revivals que preenchem os sites de noticias culturais e alegram os fãs saudosistas. Mas o cantor Morrissey contraria essa onda e resolve seguir em frente com a carreira solo. E para isso, ele prepara o lançamento do novo single chamado That's How People Grow Up para dia 28 de janeiro. Enquanto isso, Morrissey aquece as cordas vocais numa agenda de shows novinha em folha. A série de apresentações já começou, mas por enquanto só em Londres.

Enquanto grandes lendas do rock voltam em turnês, o ex-vocalista da britânica The Smiths preferiu recusar a oferta de 75 milhões de euros para o retorno da banda e dar continuidade a carreira solo. É que, além do single e da volta aos palcos, Morrissey vai lançar novo disco e uma coletânea de sucessos. A proposta surgiu através da Warner Music, e o álbum deve sair esse ano. O fã carioca Nelson Antunes não sabe o que esperar deste novo trabalho de Morrissey. “Ele sempre muda e isso é ótimo”, afirmou o fã.

Entretanto, em entrevista a BBC News, o astro nos dá uma dica. “O disco está destinado sofrer influências que resultam em letras conhecidas por incorporarem comentários de cunho social e político”, comentou Morrissey em uma entrevista que muitos dariam um rim para executa-la. O disco anterior do cantor foi Ringleader of the Tormentors lançado em 2006, ou seja, a volta de Morrissey não é nenhum revival. “As pessoas acham que nesse hiato ele ficou em casa, mas ele continuou nos palcos”, alerta Nelson Antunes.

Para ele, o problema é que a exceção do Viva Hate (1988), o primeiro disco solo de Morrissey, os outros não tiveram uma divulgação digna no Brasil. Sobre isso, o ídolo faz questão de frisar à BBC News: “estou fora do mainstream e o mainstream nunca me vai deixar entrar”. Já para o médico mineiro Daniel Boratto o conflito está com velhos fãs dos Smiths. “O trabalho dos Smiths foi tão perfeito e genuíno que gerou uma expectativa imensa a respeito da carreira solo do Morrissey, uma expectativa impossível de corresponder”, afirma Daniel.

A vida do The Smiths foi cronologicamente curta, de 1982 a 1987, mas deixou músicas imortais no mundo pop (Charming Man e The Queen is Dead são meros exemplos) e milhões de fãs órfãos pelo mundo. Isso porque, eles quebraram a visão do rock’n’roll como afirmação ou simples inteligência para falar de coisas cotidianas como solidão. Como conseqüência, os fãs idolatram a banda e muitos se fecham a carreira atual dos artistas. Não é o caso de Daniel Boratto, mas ele afirma que The Smiths é a melhor banda do mundo e é ainda mais radical com a afirmação “são melhores que os Beatles, melhores que o U2, infinitamente melhores que o Nirvana”.

As influências do astro estão os literatos Oscar Wilde e Shelagh Dalaney, a banda estadunidense New York Dolls. Dessa última, Morrissey criou o primeiro fã clube inglês, ainda na juventude. Aliás, foi daí que o jovem Morrissey resolveu encarar a empreitada e seguir em frente na carreira musical. Tentou, sem sucesso mostrar seu talento na banda Nosebleeds. E realmente tudo deu certo quando encontrou o promissor guitarrista Johnny Marr. Juntos, eles eram o núcleo criativo dos Smiths e isso resultou, muitas vezes em brigas. Tanto que Marr não agüentou o tranco, o que levou ao fim do grupo. Muitos chegam a afirmar que havia algo mais entre os dois. “Admiração, respeito, amor platônico (dizem alguns)”, concorda Nelson Antunes.

Apesar do sucesso de Morrissey na banda, após o fim ele ainda manteve as mesmas características. De Viva a Hate à Ringleader of the Tormentors, Morrissey cria rocks básicos e, como afirma Daniel, baladas de cortar o coração. Mas não pára aí. Vegetariano e pacifista, o músico também faz críticas sociais em suas músicas. Ainda dos Smiths, Meat is Murder (1985) é um protesto à sociedade ocidental carnívora, o álbum The Queen is Dead (1986) é uma afronta direta à família real inglesa assim vai.

Esse último é considerado a obra-prima da banda. Nele a dupla Morrissey / Marr aparece mais inspirada do que nunca. Ao lado de Strangeways, Here We Come (1987), Meat is Murder e do solo Viva Hate, The Queen is Dead está com destaque no livro, récem-lançado no Brasil, 1001 Discos para Ouvir Antes de Morrer. Esse livro é uma verdadeira bíblia da música pop feita nos últimos 50 anos e é escrito por mais de 90 jornalistas e críticos. Assim como toda a sua obra, esperamos agora que o novo álbum de Morrissey também esteja tão imperdível.