quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Lá vem ela...


{DES} CONCERTO ao vivo. 06.07.07 – Pitty


A garota chega em casa. Tira o tênis. Tira a roupa. Liga o som. Sintoniza na rádio mais pop entre os adolescentes de sua idade (ela tem 15 anos). De repente, brota uma mulher cantando rock, que na opinião da garota é muito pesado pro nível da rádio. A música estava pela metade e o refrão era o seguinte: “Mesmo que seja estranho / Seja você / Mesmo que seja bizarro, bizarro, bizarro”...

Ela se assusta, se empolga. Depois de um minuto, fim de música. A garota sai da sala, vai até a cozinha, encontra a irmã caçula e pergunta:

-Nossa! Mayara você ouviu aquela doida cantando bizarrooo?

-Ah já. Ela se chama Pitty!

-Rensga!


Meses depois...

Era véspera do dia das mães. Chove. As meninas e a turminha de amigos nem se importam, afinal, era o primeiro show de rock de verdade da vida delas. A essa altura, imagino que vocês já adivinharam de quem era a apresentação que elas estavam prestes a assistir (se não, é só olhar pra foto aí em cima).

Pois bem, a galerinha do bem (só tomaram água mineral!) esperou cerca de duas horas para ver a bahiana Pitty no palco. “Será que o guitarrista Peu realmente fica pelado durante os shows?”, pensou uma das garotas. Mas logo essa pergunta, ou melhor, todas elas foram respondidas.

“-Muito prazer. Meu nome é Pitty!”

Quase 4 anos depois, eu sentei em frente a TV com o mesmo propósito de antes: ver um show da Pitty. Um show, não. O Show! Só não digo melhor do que a minha lembrança anterior, porque afinal, uma tela de vidro me separava da festa. Pitty {DES} CONCERTO ao vivo mostra todas as qualidades que eu já esperava, atitude, originalidade e boas músicas. Mas a banda nos mostrou algo mais.

Quase na casa dos 30 anos, com tatuagens novas (reparem nas cerejas abaixo do ombro da roqueira), cabelo novo e figurino característico. Essa Pitty é madura. E no melhor sentido da palavra. Já na abertura do show, ela demonstra uma presença de palco invejável. Totalmente segura enquanto explodem a faixa título do último álbum da banda, Anacrônico.

“Cantando cada uma delas (as músicas) como se o mundo fosse acabar na próxima”, ela destrincha a carreira com sucessos, ou não, que a platéia repete em coro. Depois da explosão, a calmaria é bem-vinda e Pitty prova na letra de Déjà Vu que os anos passados foram bem proveitosos. E quando tudo parece muito bom, eles chegam à Brinquedo Torto. Música esta, que eu tive a honra de presenciar a versão original, onde “eu me vendo como um brinquedo torto” ainda era “eu me rendo”. Evolução palpável e Pitty tocando guitarra, o que mais podemos esperar?

Agressão em Memórias, sinceridade em Na sua Estante e uma canção nova: Malditos Cromossomoos! Isso mesmo, um grito. Que Pitty é a roqueira, ou seja, única mulher que faz rock e aparece na mídia, ninguém pode negar. E os versos “Ângulo fora de esquadro / Objeto fálico” podem ser uma alusão ao machismo. E se realmente for, não posso negar, é genial. Assim como toda canção.

A festa segue com um aviso à classe dominante do nosso Belsen tropical: “Quando o caos chegar nenhum muro vai te guardar de você”. E logo chegamos a segunda inédita do álbum: Pulsos. Essa é daquelas que se gosta de cara, sucesso garantido. E o melhor de tudo é o conteúdo, coisa rara de se ouvir em algumas rádios por aí. Pitty continua no comando do show. Motivo, razão e circunstância de todos estarem presentes.

E como tudo chega ao fim, a banda encerra com Seu Mestre Mandou (oh lembranças! Minha primeira vez numa roda de hardcore foi nessa música) e claro, a clássica Máscara. Desta vez, essa música não teve nenhuma inserção de cover, mas o brilho e a atitude são as mesmas. Final de show, banda orgulhosa, fãs felizes e a certeza que Pitty será um dos ícones do Rock Brasileiro. Duvida? É esperar pra ver!