“Já não me preocupo se eu não sei por que / Às vezes o que eu vejo quase ninguém vê / E eu sei que você sabe / Quase sem querer / Que eu vejo o mesmo que você”
Muitas vezes tenho a impressão de que minha vida dá dicas sobre fases seguintes. Às vezes, as pistas ficam tão claras que me assustam… às vezes tudo é bem sutil. Quando eu tinha 15 ainda não tinha essa superstição, mas já havia contraído a mania de ligar fatos. Eu tinha 15 anos e chovia. Com 15, eu acabava de chegar do colégio, pegava o violão e ligava o rádio por volta das seis. Nesse horário passava um programa que tocava os cinco flashbacks mais pedidos do dia. Eu tinha 15, não tinha internet, ouvia rádio e colecionava cds. Era outro tempo e eu hoje entendo que não pertence a outra vida somente pelo ocorrido em seguida.
Bem, eu liguei o rádio e tocava Legião Urbana. Certeza! Não, eu não conhecia a música, nunca tinha ouvido mesmo. Mas sei lá, eu sabia… deve ser pela bateria do Bonfá. Então, o Renato começou a cantar e eu vi que tinha acertado. Eu não estava triste no dia, a música não era triste mas chovia. E sem entender o porque daquilo, veio uma onda de choro incontrolável. Isso nunca mais aconteceu. Chorei de molhar a blusa e soluçar, 4’40’’ de choro desesperado e sem sentido aparente.
Agora, quase sete anos depois, eu descobri. Descobri que chorava por antecipação. Nessa época, eu caminhava por lugares muito próximos a ele mas não o conhecia. Quando isso mudou, quando descobrimos nossa canção, foi ele quem mudou-se.