terça-feira, 1 de dezembro de 2009

15º Goiânia Noise Festival


Música e cultura em diversas doses no 15º Goiânia Noise Festival

*texto publicado originalmente no site Netmúsicos.


Pisei no Centro Cultural Martim Cererê, com o mesmo objetivo de anos atrás: ver bons shows no Goiânia Noise Festival. Os anos passados, no entanto, mostram a maturidade que o evento alcançou. Para começar, o Martim (como carinhosamente é conhecido o espaço) não foi o único palco do Noise. Nem o rock a única atracão. Nunca ouve uma variedade tão grande de estilos musicais e manifestações artísticas como nessa 15ª edição. Exposições (fotográfica e de artes plásticas), mostra de filmes trash, debates e claro, a razão do festival, a música! Digo música, porque especialmente desta vez, o rock dividiu palco com a MPB, ritmos regionais, hip hop, música eletrônica e até chorinho. Ufa!

As novidades foram celebradas tanto pela imprensa local quanto pela nacional, de Rede Globo à MTV. Palcos espalhados por toda a cidade, festival nos moldes europeus no centro do Brasil. Para driblar a falta de espaço (o Centro Cultural Oscar Niemeyer, que sediava o festival há algum tempo, foi interditado), A Monstro Discos fez parcerias, dividiu e ampliou os locais de acesso do Noise. Ao invés de se concentrar em três dias e um só local, o festival invadiu todos os lugares alternativamente divertidos da cidade, se é que vocês me entendem. Ah, e foi até para a periferia (ao som do rap, claro). Diante disso, não pude deixar de conferir o que desse para ver da vasta programação.

Na primeira noite de festival, encontrei na cabine do DJ o produtor musical Carlos Alberto Miranda que me explicou do clima do festival: “Goiânia merece o título de capital do rock, no sentido de que aqui o rock é muito verdadeiro”. E isso foi muito bem representado na abertura do Noise, começando pelo britshpop do Motherfish. Letras e inglês, com raízes punks suavisadas, a banda animou a noite de abertura do evento na boate Fiction. Outro grande destaque do rock goiano é a badalada Black Drawing Chalcks. Destacada como revelação no próprio festival pelo produtor Miranda, o grupo destilou todo seu peso num teatro apinhado de gente. Despretenciosamente divertidos, a rapaziada foi uma das grandes atrações de sábado. Isso refiro-me, ao ponto do pessoal dizer: “vim aqui para ver Black Drawing Chalcks. Sou goiano, porra!”

E das atrações de fora, o que pôde conferir? Exemplos drásticos: do multi-instrumentista Hermeto Pascoal, passando pelo punk rock cru da pernambucana Devotos e chegando à brasiliense Móveis Coloniais de Acajú (que quase botou Martim abaixo). Diante de uma programação tão diversificada, como público, fiz minha seleção pessoal. Porém, uma sensação incômoda ainda passava pela minha pela cabeça da galera que ainda conhecia o festival de outros carnavais. Onde estão as atrações mais famosas? “Sem é claro, desmerecer os artistas que vieram, o evento é o mais aguardado de Goiânia Rock City. Um dos fatores é que geralmente, nós esperamos assistir shows de bandas que raramente viriam à cidade em outra ocasião e não vi isso esse ano.”, explicou Laís Morais.

Seguindo a onda da entrevistada, sem ofender, mas dos readliners destaquei As Mercenárias. Som post punk, letras de protesto e quase 30 anos após o início em São Paulo, nós tivemos o privilégio de encontrar esse grupo histórico em boa forma. Show estimulante, com direito a improvisos e sem esquecer dos clássicos, como Polícia e Pânico, que o público pedia aos berros. O grupo acaba de retornar e, no Noise, prometeu novas gravações. “Todo mundo me reconhece como Mercenária, então é um repertório que merece ser tocado. Não adianta fugir disso”, comentou a baixista Sandra Dee.

Em comemoração, o baile de debutante do Noise terminou como começou: entrada franca e gente animada em tocar. Diego de Morais e O Sindicato última atração, da última noite de Goiânia Noise. Mas muitas outras ainda estão por vir. Seria tolice não afirmar que em 15 anos, o Goiânia Noise quebrou não só os paradigmas musicais goianienses, mas também mudou a rotina dos roqueiros da cidade. No lugar onde tinha o marasmo, em termos de rock, existe hoje uma cena alternativa consolidada. Como nem tudo é só maravilhas, nos resta sempre lembrar: Goiânia ainda precisa de novos espaços para abarcar a quantidade de ideias surgidas todos os dias. Fica a dica.

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