Dove sei ? Come stai?
Due anche se,
non ci sei.
Io e te, sempre o mai
Siamo noi, siamo in due…
Entre extremos, sombras e paixões
Com serenidade, a baiana Pitty chega ao quarto CD
Priscilla. 1,60 m, Pitica. Atitude, Pitty. Perdoem, meu resumão de vida rotesco da única roqueira que toca no rádio, aparece na TV, ou seja, de fácil acesso nos anos 2000. “Hoje aos 30 é melhor que aos 18”. Será mesmo? Aos 18, Pitty estava em Salvador, e gritava em linguagem hardcoriana hinos de revolta do grupo Inkoma. Hoje, aos 31, quatro álbuns lançados e um nome de peso na música brasileira.
Muito se falou a respeito da nova fase da cantora, ou melhor, da banda. Que rumos a Pitty balzaquiana iria tomar? O caminho óbvio era consagrar sua pegada, com guitarras raivosas e frases de impacto. Porém, ela resolveu arriscar e pegou outra curva. Para uns soou pop e para outros experimental. Na verdade, o disco “Chiaroscuro” é um pouco dos dois.
Entre extremos, Pitty abre o disco. Em “8 ou 80”, Pitty destila sua personalidade entre guitarras oscilantes e backvocals ao fundo, que dão à canção um tom sombrio. Mas, isso é logo quebrada pelo primeiro single do álbum: “Me adora”. Essa provavelmente, você já escutou alguma vez. Desde “Máscara”, noto essa canção como um grande marco na carreira de Pitty. Não que ela nunca tenha feito canções leves e apaixonadas (quem não se lembra de “Equalize”), mas os rumos tomados aqui foram diferentes.
A princípio, me pareceu uma balada melada, chata e pretensiosa. E ainda sim, com mais de 1 milhão e 500 mil visualizações em 2 meses no YouTube. Então, resolvi ouvir novamente. Após, a segunda, terceira ou quarta audição já cantarolava “Me adora” por aí. Além de pegar o ouvinte, aos poucos a música desmistificou a impressão melosa e mostrou a atitude das letras de Pitty por detrás de temas pessoais. É óbvio que existe versos como: “Revolução Mental / Tá na hora de acordar!”, da época de hardcore soteropolitano, demonstram de maneira muito mais direta a força da artista. Mas aos trinta e poucos, Pitty comprova que outros tipos de força, além da agressão, são mais úteis empiricamente.
Por exemplo, aprender a reconhecer medos não seria ter atitude perante a vida? “Medo, escorre entre os meus dedos / Entre os meus dedos / Eu lambo os dedos / E saboreio meu próprio medo”, declara a cantora na faixa três do disco. Outras canções também extravasam sentimentos cheios de oscilações entre calmaria e explosão. “Fracasso”, dá um tapa na cara nos derrotistas e acaricia uma paixão logo em seguida com “Só Agora”.
De Balzac à Simone de Beauvoir, Pitty ainda dilacera a imagem tradicional de mulher na música “Desconstruindo Amélia”. Reflexo de uma geração que desdobra-se entre a profissão e as exigências domésticas. “Já não quer ser o Outro, hoje ela é Um também.” Apesar da minha admiração pelo conteúdo das letras, a parte musical deixa a desejar. Isso não significa que “Chiaroscuro” seja mal feito ou pouco criativo, mas o eixo musical varia pouco e sonoridade das canções, com o tempo de audição, fica repetitiva. Detalhes para uma balzaquiana que tem nas costas o peso ou a honra de levar o bom rock de frequências radiofónicas à redes de internet sem fio.
Sei que todo mundo já viu, maas...
p.s.: Além do CD, Pitty, Martin, Joe e Duda estão prestes a lançar o “Chiaroscope, o filme”. O DVD traz vídeos das gravações do disco, feitas na casa do baterista da banda, o Duda. A direção é de Ricardo Spencer e o produto está disponível para pré-venda no Submarino e na Saraiva. O mais curioso é além de disco e DVD, a capa de “Chiaroscuro” foi produzida no mesmo momento, pela artista plástica Catarina Gushiken.
Ando meio desligado
Eu nem sinto meus pés no chão
Olho e não vejo nada
Eu só penso se você me quer
Eu nem vejo a hora de lhe dizer
Aquilo tudo que eu decorei
E depois o beijo que eu já sonhei
Você vai sentir, mas...
Por favor, não leve a mal
Eu só quero que você me queira
Não leve a mal
Os Mutantes
Arnaldo Dias Baptista . Rita Lee Jones . Sérgio Dias Baptista
p.s.: Uma vez me disseram que essa música era a minha cara. Agora acredito!
Entre todas as leituras da minha vida, nunca havia me sentido tão perturbada. A escrita de Anaïs Nin foge das páginas e me deixa ofegante, coisa estranha mesmo. É como algo que eu mesma escreveria, se tivesse tal talento.
Engraçado, jamais senti inveja de escritor algum mas se eu pudesse escolher: escreveria como Anaïs Nin. Mas, não consigo terminar a leitura de nenhum livro dela. Tenho dois: Uma espiã na casa do amor,“um romance sobre os limites das descobertas sexuais”, e Henry & June, “diários não-expurgados de Anaïs Nin (1931-1932)”. Contradições a parte, ela, como eu, era pisciana. haha
Abaixo alguns trechos das duas obras. Começo pelas primeiras linhas que li da francesa Anaïs Nin.
“O detector de mentiras estava dormindo quando ouviu o telefone tocar.
A princípio, acreditou que era o relógio ordenando que ele se levantasse, mas então despertou por completo e se recordou de sua profissão.
A voz que ele ouviu era roufenha, como que disfarçada. Não pôde distinguir o que a alterava: álcool, drogas, ansiedade ou medo.
Era uma voz de mulher; mas podia ter sido de um adolescente imitando uma mulher, ou uma mulher imitando um adolescente.
– O que é? – ele perguntou. – Alô. Alô. Alô.
– Eu tinha que falar com alguém; não consigo dormir. Tinha de telefonar para alguém.
– Você tem algo a confessar…
– A confessar? – ecoou a voz incrédula: dessa vez com os tons ascendentes inequivocamente femininos.
– Você não sabe quem sou?
– Não, apenas disquei cegamente. Já fiz isso antes. É bom ouvir uma voz no meio da noite, isso é tudo.
– Por que um estranho? Você podia telefonar para um amigo.
– Um estranho não faz perguntas.
– Mas minha profissão é fazer perguntas.
– Quem é você?
– Um detector de mentiras.”
“Um caos interior, semelhante àqueles vulcões secretos que, de repente, erguem os sulcos nítidos de um campo pacificamente arado, aguardava, por trás de todas as desordens do rosto, cabelo e roupa, uma fissura por onde explodir.”
“Os pinotes provocadores do toureiro, o ondulante estandarte de ataque dos cavaleiros medievais, uma vela desfraldada em plena colisão com o vento, o escudo do guerreiro diante de seu rosto de batalha, tudo isso ela experimentou quando colocava a capa em volta dos ombros.
Uma capa estendida era a cama dos nômades; uma capa desfraldada, o estandarte da aventura.”
“Ele apareceu como um ponto fixo no espaço. Um rosto calmo. Uma conduta calma. Um tamanho que o tornava visível nas multidões e que se harmonizava com o conceito que Sabina tinha da singularidade dele. A imagem de Alan apareceu na visão dela como um instantâneo.”
Anaïs Nin em Uma espiã na casa do amor
“Conheci Henry Miller.
Ele veio almoçar com Richard Osborn, um advogado que eu tinha que consultar sobre o contrato para meu livro de D.H. Lawrence.
Quando ele saltou do carro e se dirigiu para a porta onde eu estava esperando, vi um homem de que gostei. Em seus escritos ele é extravagante, viril, animal, opulento. E um homem a quem a vida embriaga, pensei. É como eu.”
“Um rosto surpreendentemente branco, olhos ardentes. June Mansfield, a esposa de Henry. Quando ela veio em minha direção da escuridão do meu jardim até a luz da entrada, vi pela primeira vez a mulher mais linda da Terra.”
“O mundo nunca foi tão vazio para mim desde que a conheci. June fornece a carne bela, incandescente, a voz fulgurante, os olhos inescrutáveis, os gestos intoxicados, a presença, o corpo, a imagem encarnada de nossas imaginações. O que somos nós? Apenas os criadores. Ela é.”
“Henry é vida. June é morte.”
Anaïs Nin em Henry & June.