Scarlett Johansson canta. Descobri isso ainda no filme “Encontros e Desencontros” (2003), onde a atriz dá uma palhinha num karaoke de Tóquio. De dentro da trama, ela conseguiu externar esse talento somente ano passado. Espera e expectativa gerou um sentimento de “o que vem?”. “Anywhere I Lay My Head” é composto por versões milimetricamente surreais de músicas do cantor/ator estadunidense Tom Waits.
Desde a capa do álbum, Scarlett Johansson convida a sua mais nova espécie de público (os ouvintes) a mergulhar num conto de fadas. Seria ela uma bela adormecida repaginada? De qualquer forma, o disco introduz o clima etéreo na primeira faixa, a instrumental “Fawn”. A voz de Scarlett entra em cena na sombria “Town With No Cheer”. A música nos apresenta a voz sem frescura da cantora. Sim, ela merece esse título. Não que Scarlett seja das mais afinadas do mundo, mas o timbre meio rouco, arrastado pega os desavisados de jeito e encanta.
De todas as outras 10 faixas, “Falling Down” é a minha preferida. Qual as chances de se encontrar uma canção que tenha o seu nome e ainda por cima gravá-la? Scarlett Johansson consegue esse feito. Pelo visto, o compositor Tom Waits também teve uma musa chamada Scarlett. E a versão da nossa, é o misto de hino apaixonado com uma saga medieval. Uma queda. (Ouça aí no post abaixo)
Depois, acende a faixa título do disco. “Anywhere I Lay My Head” talvez ganhou este status por representar uma síntese do trabalho. Teclado, barulhinhos, suavidade nas guitarras e até nas pegadas da bateria contribuem para a formação do clima surrealista. E Scarlett? Parece mais distante que o ouvinte, a voz viajando em decibéis por aí.
O restante do álbum desenrola-se com delicadeza e as músicas parecem beijar nossos ouvidos. Especialmente “I Wish I Was in New Orleans”, uma linda canção de ninar. Em “I don’t want to grow up”, viajamos de bateria eletrônica à sussurros. O disco acaba com “Who are you?” e Scarlett Johansson mostra o quão grave pode ser a sua voz. Sim, esse foi o fim de “Anywhere I Lay My Head”, mas não o fim da discografia da cantora.
Ao lado do cantor Pete Yorn, Scarlett lançou este ano o “Break Up”. “Um álbum profundamente emocional, mas cheio de melodias, sobre uma relação tempestuosa”, como define a própria descrição do disco. Ainda não ouvi o álbum o suficiente para minha própria descrição, mas primeira a música já considerei viciante. A animadinha “Relator” abre “Break Up” com louvor e demonstra boa sincronia entre a dupla.
Uma definição prematura? Scarlett Johansson é indie.
p.s.: a minha afirmação final ainda faz mais sentido ao vasculhar a carreira musical da moça. Um dos pontos de partida foi uma participação no show do Jesus and Mary Chain, durante o Festival Coachella de 2007.