O punk completou 30 anos e recentemente foi tema de inúmeras mostras, compilações, documentários e festivais comemorativos. Não é pra menos, foi o movimento que chocou a aristocracia inglesa e a burguesia norte-americana, que encontrou seguidores nos subúrbios de todo o mundo, que criou um senso de moda único e que permitiu a qualquer moleque, mesmo sem formação artística ou talento nato, montar uma banda.
O punk transformou a marginalidade em estética. E mudou os rumos do rock para sempre. Da parte do label Music Brokers, a homenagem histórica ficou por conta de uma antologia musical em três CDs, acompanhada de um caprichado livreto.
30th Anniversary 1997/2007 se vende como compilação definitiva do punk em língua inglesa. São 45 músicas categorizadas por "The 77 Revolution", onde estão agrupados os ícones inspiradores de toda a explosão da blank generation, como The Ramones, Buzzcocks, The Damned, Sham 69 e The Stranglers; "Hardcore & British Second Wave", rememorando a fase mais retórica e apocalíptica do punk ao pinçar clássicos de Dead Kennedys, UK Subs, Adicts e GBH; e "Roots & Rarities", que traz legendários hits do momento pré-punk - The Stooges, Velvet Underground, New York Dolls, MC5 e Runnaways, entre outros.
A seleção é muito boa de ouvir. Evita certos clichês e privilegia faixas que marcaram pontuais desdobramentos do punk rock. É bacana que tenha chegado em prensagem nacional agora, podendo ser comprada por um preço até razoável para uma coletânea em três discos.
É indicada a colecionadores, nostálgicos ou gente que está conhecendo o movimento agora. Vem numa embalagem legal, com arte e acabamento que valem a bufunfa em tempos digitais. A masterização, cristalina e alta, dá valor a gravações que originalmente foram prensadas com finalização tosca.
Há injustiças, entretanto. Mesmo com toda a qualidade apresentada e relevância das faixas escolhidas. Não incluíram, por exemplo, NENHUMA do The Clash. Uma coisa é deixar o The Exploited de lado, outra é não mencionar o Clash, grupo que de tão sintomático até dispensa credenciais.
Faltou, além deles, tentar cobrir a cena skate-punk dos anos 80, muito importante para o hardcore: Black Flag, Circle Jerks, 7 Seconds, Social Distortion e Bad Religion não são bandas fáceis de deixar de citar.
Talvez não fosse necessário repetir artistas como Ramones e Sex Pistols, e, levando em conta que o lançamento tem como recorte a língua inglesa, seria interessante produzir uma série de boxes com intuito de abarcar outras expressões.
Isto porque as cenas brasileira, finlandesa, italiana e portuguesa pariram muitos nomes do punk que nunca ganharam o devido resgate. No Brasil, dá pra mencionar Cólera, Garotos Podres, Ratos de Porão, Olho Seco e Replicantes, grupos que possuem muitos fãs na Europa.
Por outro lado tem Stiff Little Fingers, The Saints com um registro melodioso e cheio de crueza de "Follow The Leader", Sid Vicious cantando "Search and Destroy", dos Stooges, Johnny Thunders & The Heartbreakers e Dee Dee Ramone, em sua incursão solo representada por "Negative Creep".
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