Guerra Fria nunca mais

Como uma estrela cadente no meio do céu cada vez mais disputado por bandas de rock. Este era um dos ângulos de visão a respeito do cenário musical brasileiro, lá nos idos de 1985. Só que os nossos príncipes tinham um diferencial, não eram apenas um monte de macaquitos, falavam de amor mas tinham um ar de guerreiros da salvação.

Consciência incerta do que ocorria em volta, como quem aparentemente questiona a Guerra Fria, a abertura econômica da China ou até os conflitos árabes – israelenses, mas que na verdade pouco se importa com essas conjunturas. De qualquer forma, quem ouve Revoluções por Minuto tem a forte impressão que aquele era um momento crucial de mudança. Os teclados apoteóticos de Luís Schiavon deixam claro que uma nova era está prestes a nascer.

O raio laser e as infinitas fumaças nos shows da banda completavam toda a áurea mágica. O RPM alcançou o estrelato voando. Mas claro que não foi em vão. O vocalista Paulo Ricardo de um modo ou de outro trabalhava na área e foi como jornalista musical que ele conheceu Ney Matogrosso. O cara ficou super empolgado com a banda, chegou a produzir shows do RPM, além das altas dicas. 

“Gosto muito do primeiro álbum do RPM, Revoluções por Minuto. Achava que era um trabalho diferente no panorama do rock brasileiro, em música e letra. O grupo tinha um estilo diferente, alguma coisa que soava progressiva, havia influência disso, mas não era exatamente progressiva”, afirmou Ney em um artigo, escrito por ele e publicado no especial da revista Super Interessante, História do Rock Brasileiro: Anos 80. 

E antes mesmo da queda do Muro de Berlim (imagine quantos acordes poderosos isso teria dado!), o RPM já havia naufragado. Em fevereiro de 1989, o sonho acabou. Para mim, o que ficou foram os dois únicos álbuns da banda empoeirados numa gaveta da minha mãe.

p.s.1: O vídeo que vale a pena ser visto, não aceita incorporação. Então, para ouvir clique aqui.

Numa galáxia ainda mais distante,

  

na mesma década, o rock também mexia na ferida da Guerra Fria. Nada da perfeição estética de Paulo Ricardo agora. Nada a ver com isso. Siouxsie and The Banshees era uma banda, visualmente falando, estranha. O som também, meio sem definições. Gótico, punk, new wave? A melhor deles que conheço, Hong Kong Garden, está mais para dança e alegria mesmo. Só que o assunto tratado é bem mais sério. “Lixo flutuando na água poluída / Um velho costume de vender a sua filha / Você gostaria do número 23/ Deixe seus ienes no balcão, por favor/.” 1978: Hong Kong ainda não era China. Mas vamos ao socialismo de mercado? OK! Vamos à música, please?

p.s.2: Incorporação também desativada (alguém sabe como evitar isso?!). Então, quem quiser o vídeo original de Hong Kong Garden está aqui.

p.s.3 : Hong Kong Garden faz parte da ótima trilha sonora do filme Marie Antoinette, da Sofia Coppola. A primeira vez, confundi a voz da Siouxsie com a da Kathellen Hanna. Algum problema?