domingo, 30 de agosto de 2009

Força sempre!


Renato Russo – o filho da Revolução
autor: Carlos Marcelo

Acabei de ler a biografia Renato Russo – o filho da Revolução. O livro trata dos primeiros anos da vida de Renato até a consagração do sucesso, por volta de 1988. Nele, a cena brasiliense, as férias no Rio de Janeiro, a infância em Nova Iorque. E não foi só mais um livro. Fotos, manuscritos, e até provas, trazem o artista para mais perto do leitor. O bom é a contestação de algumas coisas. A maior delas é como eu me identifico com o Renato. Disso todo mundo que me conhece já sabe, mas as coisas são mais difíceis de explicar.
Eu não só simplesmente gosto das músicas desde os 12. Como nenhum artista, a figura do Renato me acompanhou como irmão mais velho, pai e amor platónico (pronto, falei). Se existiu alguém no mundo muito parecido comigo, esse alguém foi ele. Ele Áries ascendente em Peixes, eu Peixes ascendente em Áries. Não sei até quando Tempo Perdido, Baader-Meinhof Blues ou Marcianos Invadem a Terra farão sentido para mim. O importante é: desde que me entendo por gente, eu sou essas músicas e elas me são.
E o Renato? Um garoto comunicativo? Deslocado? Transloucado? Drogado? Apaixonado? Tudo e um pouco mais, assim como a sua cidade… Brasília. Uma terra sem alma, como disse Simone de Beauvoir. Talvez, apenas uma selva de concreto, com corpos de candango nas paredes. Terra de gente que cospe no próprio sucesso? Ao menos, em 1988, foi assim… no grande show onde a Legião foi a expulsa.
No mais, o autor Carlos Marcelo reconstrói a vida dos Manfredini (a família de Renato) e de tantas outras que se desafiaram a criar os filhos na Brasília dos anos 1970. Daí, para controlar os adolescentes nos 1980. Coisa um pouco difícil para os moradores das superquadras, no Plano Piloto. O Aborto Elétrico estava lá. “E cuidado pessoal, lá vem vindo a Veraneio”.
O tempo passou e Dado Villa-Lobos, Renato Russo e Marcelo Bonfá já sabiam o que iriam ser quando crescessem.
Do francês,
Legion Urbaine.
Do inglês,
Urban Legion.
“Nós somos a Legião Urbana.”
Renato era repórter de rádio. Também tinha um programa sobre os Beatles. Um dia, ele dá a notícia dos sonhos para o chefe:
“-Eu vim pedir demissão, porque nós fomos contratados pela EMI-Odeon.” **
E a história da Legião começa a tomar forma, como nós conhecemos, em contrato assinado com a mesma gravadora do quarteto de Liverpool. A voz de Renato torna-se a voz da “nova geração.” Mas a parte que gostei mesmo, foi a descrição do processo de gravação do disco Dois (sempre presente nas listas de melhores discos de Rock Brasileiro). Talvez, porque ele tem uma das letras mais lindas que já vi. Talvez, seja mais poema do que música. Ele falaria de pintura, então nada melhor do que consultar um amigo pintor.
“- Porra Renato! Não é assim que se mistura acrílico. O solvente é água. É melhor você chamar (a música) de Oil on Canvas.
- Eu vou chamar de Acrilic on Canvas. Isso é licensa poética: a minha tinta acrílica eu dissolvo onde eu quiser.”
Depois de tanto tempo não ouço mais Legião Urbana todos os dias, mas lembro da maioria das canções. E ainda sim, toda vez que penso ou lembro ou conheço mais a respeito do Renato Manfredini Júnior (e não só do artista) sinto uma melancolia estranha. Lembro dele presente na minha vida muito mais que pessoas do meu convívio diário. Lembro dos meus 15 anos, da primeira vez que ouvi Quase sem querer e da crise de choro consequente. “E o resto não sei dizer.”
URBANA LEGIO OMNIA VINCIT.
p.s.: ** Se eu fosse o Renato ou o autor do livro, com certeza acrescentaria um “Bjs” básico.




"Mesmo se as estrelas começassem a cair
A luz queimasse tudo ao redor
E fosse o fim chegando cedo
Você visse o nosso corpo em chamas!
Deixa, pra lá...
Quando as estrelas começarem a cair
Me diz, me diz
Pr'onde é que a gente vai fugir?"

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Indo pra Goiânia, bacana

Fortaleza, julho 2009

Antes de tudo, um forte. Em loco, é bem mais fácil entender o velho Euclides da Cunha. A sensação de estar no nordeste antes mesmo de chegar até ele. Dos 46 passageiros da saga Goiânia – Fortaleza (e Fortaleza – Goiânia) só eu e a Bia éramos aqui do cerrado. Cachorro, sofá, papagaio, velho, menino, cabra macho, ôxi ... tudo e todos indo ou vindo do nordeste brasileiro. Um diagnóstico importante: as paradas do Galant (o nome do nosso ônibus) durante os quase 3.000 quilômetros cruzados têm uma razão precisa de existir.

O mundo como conhecemos em Goiânia, isso inclui também a imensa parte rural, termina em Barreiras – BA. De lá, as vistas abrem-se ao sertão baiano. A transição cerrado – caatinga foi concluída, ou seja, a paisagem e o modo de vida das pessoas já é diferente. Pela janela, o que dá para ver além dos cactos e dos paredões tem aqueles povoados e fazendas dignas de Abril Despedaçado (filme de Walter Salles). Em Petrolina – PE, demos adeus à terra sagrada, a Bahia, como definiu uma das passageiras do Galant. Petrolina = metrópoles regionais que a gente vê em geografia no ensino fundamental. Embarque e desembarque... o que lembro em seguida são milhares de lagoas cearenses até o desemboque final em Fortaleza.

E no meio da rua...

A cidade começa na rodoviária. De lá, para a avenida 13 de maio e o campus Benfica. Traçando parâmetros de comparação: três Goiânias mais sujas e com lugares muito mais lindos. Dica, fique hospedado num lugar na Beira Mar ou na Iracema. Se for morar, o bairro é Alagadiço Novo. Não se esqueça de pegar uma topic (micro-ônibus) para dar uma passadinha na praia do Cumbuco. Bagagem com bolo e pão com manteiga gera baixa auto-estima, porém boates em arquitetura démodé é cool. Não se esqueça da Coca KS para rebater.

p.s.: a melhor da viagem: "dignidade em destruição".